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Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pelo Institute of Ethics, em Los Angeles, aponta que as pessoas que colaram em exames no ensino médio são consideravelmente mais propensas serem desonestas na via adulta. O estudo não surpreende. Há até quem diga que “mentir e colar, é só começar”. Mas diante dessa constatação, como poderemos incutir em nossos jovens a importância da honestidade?

Os jovens e os adolescentes são avessos a frases e discursos moralistas. E é bom que o sejam. Afinal, se lhes foi dada uma inteligência é para que a utilizem retamente. Assim, para que sejam incutidos os valores éticos é necessário que saibamos fazê-los pensar e refletir a fundo sobre as conseqüências de suas ações. Com habilidade e senso de oportunidade, temos de saber propor-lhes muitos porquês.

Tomemos o exemplo da cola. Quais são suas as vantagens? Podemos vislumbrar algumas respostas: exigem um menor esforço mental e talvez menor tempo que um estudo sério; com isso, sobra mais tempo para a diversão; é uma aventura atrativa poder romper as regras e, com isso, se sair bem e talvez melhor que os nerds que passam horas estudando. Mas… como se sente ao receber uma nota imerecida? Triunfante pela esperteza? Ou, ao contrário, com um vazio interior·que precisará ser preenchido com outras trapaças? Já experimentou satisfação que dá tirar uma boa nota que seja fruto do esforço e da dedicação?

Depois de muitas indagações como essas ou outras que a intuição materna ou paterna nos dirá, então poderemos, muito sutilmente, sugerir algo. Sobre esse assunto, poderemos dizer-lhe: “filho, para se construir uma escultura belíssima são necessários muitos pequenos atos, pensados, esmerados. Para destruí-la, basta poucas marretadas ou um atirá-la no chão. Ocorre algo semelhante conosco. Para merecer a confiança é necessário muito esforço dedicação. Para perdê-la, basta ser surpreendido colando ou praticando outra desonestidade qualquer”.

E provável que essa frase não o convença facilmente. E o objetivo não é mesmo convencer de nada, mas fazê-lo pensar. Não há uma· só má ação que resista a três ou quatro porquês bem elaborados.

É esse exercício servirá para muito mais. Na verdade, servirá para tudo na vida. Já adultos, há de se indagar: devo receber uma comissãozinha para comprar os produtos daquele fornecedor, ainda que seja mais caro e prejudicial à empresa que trabalho? A. quem estarei beneficiando com isso? A quem estarei prejudicando? Quais serão as conseqüências se descobrirem essas falcatruas?

Lembro-me de um episódio que me ocorreu quando era criança; Participava de um jogo de futebol. O clima era tenso e perdíamos por um a zero. Numa jogada, a bola tocou-me na mão. Os adversários reclamaram a falta, ao que os do meu time, contestaram. Os olhos de todos se voltaram para mim que, ainda na inocência da primeira infância, prontamente admiti a falta. Os companheiros de time, já com. a “malícia de jogador” se indignaram comigo: “Você é burro?! Não vê que estamos perdendo?!”.

A primeira reação foi pensar que, no futebol, para vencer vale tudo, até mentir. No entanto, logo notei que aquela mesma atitude me trouxe muitas vantagens. E que, quando surgia algum lance duvidoso, eles corriam a me perguntar o que havia acontecido e confiavam sem duvidar da resposta.

Um grande desafio que temos na educação de nossos filhos e alunos para convencê-los a ser sinceros é saber mostrar-lhes como é bom ser honesto. É bom dizer algo e todos; acreditarem sem necessidade provas, testemunhas, etc. É muito bom para o marido e para a mulher poder dizer ao outro onde esteve e ter dele ou dela a total confiança que nasce de um compromisso assumido, e honrado. E isso não é impossível. Basta que saibamos fazê-los olhar: para dentro de si. Lá encontrarão uma lei natural que os move para o bem.

Aprenderão também que seguir os conselhos de uma consciência bem formada é a chave para encontrarem a verdadeira felicidade.

Fábio Henrique Prado de Toledo
Juiz de Direito em Campinas
fabiotoledo@apamagis.com.br